domingo, 31 de maio de 2009

A noite



A lua brilhava sobre eles, naquela noite especial. Eles se passeavam pela cidade, pelas ruas perdidas e escuras, de mãos dadas, partilhando experiencias passadas, sonhando com o futuro, vivendo o presente. A noite era sua testemunha, confidente de um grande amor, via-os passar, parar e voltar a andar, uma e outra e outra vez, confidenciando pequenos momentos especiais…iluminados pelo luar.

Vagueavam, sem rumo, perdidos na alma do outro, os dois como se não existisse amanha, apenas aquele momento, aquela noite. E as promessas escritas no ar, transmitidas pelo olhar, escritas nos lábios e descritas pelas mãos. Um sentimento sem explicação.


Eles desceram a cidade, se sentaram junto ao mar, os pés na areia molhada, os corpos com sabor a sal.
Trocaram mensagens abstractas levadas pelo vento, as suas mãos tocando o pensamento, os seus olhares quase se misturando, e os seus lábios se agarrando. Um momento, simples e único momento, que ficaria para sempre gravado na sua mente.

E a noite se prolongou, e eles se encontraram mil vezes sem nunca se separarem, no limite do horizonte, sob o brilho do luar.


Surgiram os primeiros raios de sol, anunciando o nascer de um novo dia, o fim daquela noite.


E a noite acabou, ela regressou, ele ficou, mas o mundo mudou!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Devolve-me!



Sinto-me assim perdida, confusa, sem rumo.
Perdi-me neste mar de emoçoes, neste navegar ate ti. Perdi-me algures por ai.

Cheguei a um labirinto de encontros e desencontros e nao consigo sair. De todos os lados encontro paredes, altas paredes muradas que me impedem de sair daqui. Todos os que por mim passam seguem e me indicam a saida, mas quando la chego ela nao existe, nao esta la. Apenas o muro, o alto muro de pedra que me impede a passagem. Seria mentira? Ilusao? A saida existira mesmo?Mas...onde estao todos os que por mim passaram e seguiram?Sairam ou sumiram?Será que voaram por cima destes muros que me cercam?

Fico aqui sem ar, claustrofobica, nestes corredores apertados, correndo, disparatadamente, dum lado para o outro, sem conseguir sair, sem encontrar a saida, sem poder correr para longe, ou fugir para o outro lado do oceano.

Devolve-me as asas que me tiraste quando me aprisionaste, devolve-mas, com elas poderei sair daqui, e voar de novo para outro lugar.


Devolve-me! Deixa-me de novo voar!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Pedaços de Mim


Foi o baque, o impacto das palavras, poucas palavras que tanto diziam, a violência do inesperado, tantas vezes previsto, sempre rejeitado. E o vento soprou mais devagar, o calor insuportável, a falta de ar.

As lágrimas tantas vezes guardadas, desta vez não apareceram, se esconderam, e simplesmente a magoa, contida, retraída, no fundo do meu interior, abafada, me lembrava o que acontecera, o porque que eu não respirava.
A dor me invadiu, naquele instante, aquele aperto no peito, o nó na garganta, as mãos que tremiam, o olhar baço, apenas a dor, profunda, que me tomou por completo, e tudo tão disforme, enorme, num mundo meu que nao mais reconheço.

Fiquei ali, caída, sem força, o rosto escondido nas mãos, perdida, sem vontade, o olhar fixo não sei onde, alheada, nesta realidade confusa, desnorteada. Fiquei ali, quieta, calada, à espera, deitada. Fiquei e não quis saber, se tu ias ou não perceber. Fiquei apenas por ficar, dando tempo para a dor superar.

Esse tu que eu desconheço, não é o mesmo tu que um dia conheci, não é. Esse alguém que agora me fala, me seduz e me destrói, me atira ao ar e observa calmamente a minha queda no chão, esse alguém é uma outra pessoa, um outro alguém, não és mais tu.
Esta dor que me consome, me arruína e me apaga. Esta angustia, dificuldade em respirar. Este amor, que um dia o foi sem existir.

E escrevo já não sei para quem nem sobre o quê. Simples frases soltas sem nexo, onde me encontro e me perco, me procuro e não me encontro, me vou e me volto. Apenas sentimentos confusos e dispersos que ficam melhor em prosa que em verso.


Pedaços de mim, perdidos no tempo, contigo ou por ti, pedaços de mim, destruidos, acabados, pedaços de mim que não mais consegui encontrar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vazio de ti



Tu chegaste assim, de repente, entraste sem bater a porta, e ficaste, permaneceste o tempo que quiseste, o tempo suficiente para seres inesquecivel, marcaste a minha vida duma maneira so tua, preencheste os meus dias de alegria e ternura, fizeste me mudar, a tua imagem, aprender, a ser o que querias, e ser o que hoje sou. E depois, saíste, deixando a porta aberta, e a esperança de te ver voltar para trás. Mas tu não voltaste, nem sequer olhaste para trás, seguias sempre, desaparecendo no meu olhar.

Este vazio é cada vez maior, o vazio que deixaste quando partiste sem avisar, este espaço em branco na minha vida, este espaço vazio no meu dia-a-dia. A ternura e carinho com que me invadias os dias, desapareceu, subitamente, deixou de existir. Aquela presença constante, as mensagens trocadas, as palavras sentidas, e o voar do tempo.

O tempo que se arrasta, me arrasta, me faz vaguear pelos dias, todos os dias, tentando superar, não pensar, no quanto um dia tudo foi diferente, o quanto te tive presente. A tua ausência que me mata aos poucos, me corrói e me destrói. Esta distancia que aumenta, no vazio dos dias, no correr das nossas vidas, separadas, afastadas. E as horas eternas que passei, e sem saber ainda passo, a esperar, espero apenas um sorriso, talvez uma palavra, ou se calhar um pouco mais. Porque contigo nada é demais.

É difícil, quase insuportavelmente difícil, estar aqui, sem ti, e sentir-te ai, cada vez mais longe de mim.

E o tempo que não passa, o vazio que se alastra, a distância que aumenta e esta ausência de ti.

E a porta que não fechaste por esquecimento, deixou o nada a preencher o vazio do teu lugar.


O espaço vazio, e este vazio de ti.



terça-feira, 26 de maio de 2009

Destinados



Aquele dia era dela, só ela e os seus pensamentos…a olhar o mar, o céu, a pensar em tanto e tão pouco, em tudo o que se havia passado, de tudo o que ia chegando sem aviso e fugindo de repente…esse tão mal fadado destino, ingrato, anulado…a turbulência dos últimos dias e a tranquilidade encontrada ali, naquele lugar.
Andava por ali, caminhando junto ao mar, sentindo os seus pés molhados pela água salgada, enterrando-se na areia a cada passo dado.
A praia que a viu crescer, que a acompanhou desde sempre, e o mar, picado e revoltado, via-a agora a divagar junto a si, procurando um passado distante ou um futuro inexistente, procurando algo disperso, distinto.
E ali, naquele que sempre fora o seu refúgio, naquele lugar só dela, o viu sentado nas dunas, com o olhar fixo no horizonte, o coração perdido no tempo e o corpo despido de paz. Ele sorriu quando a viu, ela que agitara o seu pensamento estava agora ali, junto ao mar, olhando o vazio, esperando por si.
O destino que os afastara pusera-os ali, juntara-os, naquela praia deserta onde apenas eles vagueavam procurando-se sem saber, encontrando-se sem querer. Eles viveram para aquele instante, aquele encontro, que agora acontecia, não planeado, secretamente desejado. Acontecendo porque tinha de acontecer, era o seu tempo de viver.
Ele se levantou e ao encontro dela foi…procurando palavras apenas encontrou suspiros, pensamentos perdidos…o acaso o colocara ali, sem saber o que fazer, o que dizer, pensando na razão de tudo acontecer.
Ela o observava ao longe, caminhando de novo para si, o seu coração frenético de saudade, de vontade de o amar, por segundos parou, na espera desse chegar, desse ver e amar, desse simples esperar.
E ali, naquele momento, esqueceram do mundo e da razão, uniram as mãos, agarraram-se com força, perderam-se num abraço louco pela areia molhada…os seus corpos inquietos, os olhares discretos, o suor de desejo…e, morreram, num beijo demorado!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sem Sentido



Fui, porque quis chegar, queria amar.
Fui, assim, perdida, sem olhar.

Sentimento sem sentido,
Este que por ti sinto.
Sentido ausente na minha mente,
Sentimento no coração presente.

Cheguei, tentando não voltar,
Voltei, porque não consegui ficar.

O sentimento ausente,
O sentido presente,
E a alma vazia,
O coração doente.

Vou, caminhando, sozinha, sem sentido.
Vou, porque não pude ficar, não fazia sentido.



Sinto que o que sinto não tem sentido,
E não minto.

sábado, 23 de maio de 2009

Falta de ti



A vida que me acompanha não é hoje o que foi outrora. Uma vida de rotinas, na ausência de coisas novas. Vida essa que apenas existiu contigo, quando tu nela existias.
E sinto falta, falta de viver suspensa no ar, do suspiro a cada palavra ouvida, pronunciada, ou das promessas nunca feitas e das palavras descritas no olhar, dos lábios trémulos, impacientes, e dos corpos dispersos, perdidas no calor dos instantes ausentes.
E esta saudade imensa, silenciosa e guardada, tira-me o ar, sufoca-me, entristece-me o olhar.
E a vontade intensa, vontade nunca confessada, é agora escondida, ocultada.
A proximidade do limite não mais existe, aquela maneira intensa com que me habituaste a ver o mundo, a viver, o acordar a saltar, o adormecer a chorar, e sonhar, passar a noite a sonhar.
E agora? Agora é apenas o longo arrastar dos dias, onde nada acontece, onde toda emoção desaparece.

Sinto falta de tudo, e de nada.

Sinto falta de ti. Falta de nos.

Sinto falta daquela parte de mim que contigo ficou...perdida ou guardada ou esquecida...ficou contigo!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Palavras



Palavras, simples palavras, poucas e indefinidas,
Que cortam e ferem com a firmeza de mil navalhas afiadas.
Saiem da tua boca, rápidas, cruéis, fatais,
Magoando sem razão, ferindo o coração.
Tanto dei por simples palavras, doces e ternas palavras,
E agarrei as palavras, lindas palavras, raras vezes pronunciadas.
Palavras agora tensas, escassas, macabras,
Atiradas com dureza, frieza, destreza,
Como flechas lançadas do arco,
Precisão, exactidão, facto.

Fecho a porta, procuro o silencio,
Apago as palavras, apago a dor, apago a vida,
Apago-me a mim!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Hoje Desisto...



Nunca desisti de nada, mas hoje desisto…desisto do que sinto, do que acredito, desisto de ti…desisto essencialmente de mim…
Acreditei, acreditei muito…tudo em ti me fazia acreditar…tudo em mim se recusava a duvidar…abri-te minha alma e acreditei…deixei-te entrar…
Foram dias, semanas, meses…foi o tempo, muito ou pouco ou nenhum, apenas o tempo para acreditar…o tempo que chegou ao fim…
Fui em ti tudo o que não fui em mim…foi tanto o que contigo vivi…tantos momentos, emoções...tantas palavras, contradições…tantas cenas de filme…tantos suspiros no ar…
Encheste-me o coração de esperança e ilusão…com palavras e gestos não esperados…os instantes incertos e os olhares despertos…aquela noite especial…
Tu, que foste mais do que soubeste…soubeste ser mais do que pensaste…e desse jeito só teu, permaneceste e continuaste…essencial….
Eu, que nunca soube quem fui…que sempre me estranhei…nunca soube onde estar nem o que dar…tenho no teu sorriso o olhar que me acalma….
Hoje acordei cansada, exausta desta luta sem fim, deste tormento constante, desta necessidade de ti…desta falta de mim…desta ausência de ti na presença do teu corpo sem alma…
Lutei, lutei tanto…a cada segundo contigo lutei…lutei e perdi…
Fui tão longe quanto me deixaram ir…fui até onde não pensei chegar…fui até ter de voltar atrás…

E aí desisti!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Algo Especial


Tive-te em mim duma maneira especial,
Num sentimento indefinido e profundo,
Encontrei-te comigo e perdi-me contigo,
Num qualquer lugar escondido, recolhido.

Eu em ti, tu em mim,
Dois ou apenas um,
Talvez,
Um momento, um instante,
Sem fim.

O silencio disfarçado,
O grito abafado,
O olhar intenso,
O beijo imenso.

E os olhares trocados no momento,
As palavras levadas pelo vento,
A paixão, sedução, vivida, talvez pedida,
O carinho, amor, sentido, sempre negado.
E a vida, perdida, consumida, acabada.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sem Nada




E ali deitada, esticada,
Nua, despida,
Te via, observava,
Tua alma respirava.

Te beijaria, se te alcançasse,
Te tocaria, se pudesse.
Teu calor no meu corpo
Meu olhar na escuridão.

E senti, sonhei-te,
Perdi, amei-te,
Olhei, no vazio,
Chorei, na solidão.

Vida que me sustentava,
A tua ausência suportava,
E me vi desfeita, cansada,
Num futuro sem rumo, sem nada.

domingo, 17 de maio de 2009

Quando...



Acordei esta manha com o sol a romper pela janela…um dia de calor que despertava em pleno inverno…o frio que gelou nas últimas semanas tinha acabado…tudo transparecia alegria.
As pessoas saíram a rua, nas suas vidas rotineiras do costume, levando nos seus rostos um sorriso que resplandecia o sol que resolveu brilhar naquele dia.
Naquela tarde te vi na esplanada de sempre, aquela que nos acolhe em todos os dias como este, e a vi a escuridão do teu olhar…o brilho do teu olhar já não mais existia.
Os amigos do costume, sempre em teu redor, as piadas do costume, os cigarros do costume, as cervejas do costume…e sempre o teu olhar ausente.
Ouvi a tua história, uma história que preferia que não existisse, de demasiado sofrimento e dor…as lágrimas simplesmente rolaram pelo teu rosto e tudo ficou diferente.
Tudo foi desvanecendo naquela tarde, naquele lugar, naquele momento…o mundo ficou mais triste e a nossa presença nele indiferente.
O cigarro pousado queimava sozinho, esperando o final da historia…e ao por do sol o dia já era cinzento, escuro, sem vida.
A noite chega e com ela o desfazer dos sonhos, a penumbra da tua porta leva-nos de volta a esta realidade…esta existência excluída.
E o corpo cede ao cansaço, uma fadiga extenuante que me inundou por completo, o vazio da dor, a mágoa que preenche a alma…e a distancia duma vida prometida.


Quando…
Os sonhos não existem, não se realizam e não nos preenchem…simplesmente nos arrastamos pelo vazio dos dias, pelo cinzento da cidade, e pelos caminhos que não desejamos.